A nossa história começa em 1983, quando os transtornos do espectro do autismo (TEA), hoje tratados com certa familiaridade, eram totalmente desconhecidos. A palavra autismo, difundida em 1943/44 pelos estudos de Leo Kanner e Hans Asperger, constava apenas do vocabulário de alguns psicólogos e psiquiatras e, ainda assim, só os especializados.
Mas, como diz Uta Frith, “um transtorno descrito recentemente não é necessariamente um transtorno novo”. O autismo já existia.
Em 1983, o Dr. Raymond Rosenberg tinha alguns clientes que viviam um momento de angústia: eles tinham filhos de 3 anos em média e há pouco tinham sido diagnosticados com autismo. Essa era toda a informação que esses pais tinham: a palavra autismo. Não havia qualquer pesquisa ou tratamento na cidade, estado ou país que pudesse ser utilizada para ajudar aquelas crianças. Os atendimentos para crianças com deficiência mental não eram adequados e nem mesmo aceitavam pessoas com autismo.
Foi então que esses pais decidiram se reunir para construir um futuro que amparasse seus filhos e proporcionasse a eles maior independência e produtividade. Com este objetivo em comum, fundaram a AMA – Associação de Amigos do Autista, a primeira associação de autismo no país.
Antes de completar um ano de fundação, a AMA já tinha uma escola que funcionava no quintal de uma igreja batista. O espaço foi cedido pelo pastor Manuel de Jesus Thé, pai de César, um garoto que sofria com a Síndrome de Asperger. A partir de então, começou uma luta sem igual.
Dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento e aplicação de métodos de tratamento antenados com as pesquisas mais recentes da psicologia e da educação para pessoas com TEA , a AMA – instituição beneficente e sem fins lucrativos – sempre teve que lutar para manter-se financeiramente.
Na época da fundação da AMA, sendo o autismo ainda pouco conhecido, era muito difícil conseguir ajuda e arrecadar fundos. Felizmente conseguimos realizar uma campanha na televisão com o conhecido ator Antônio Fagundes, para que as pessoas em geral pudessem familiarizar-se com a palavra autismo e não continuassem confundindo a AMA com outras associações de mesma sigla, como a Associação de Amigos do Artista ou Alpinista, como frequentemente acontecia.
Hoje essa situação é diferente.
A luta ainda é muito dura, mas hoje a AMA se orgulha em oferecer atendimento 100% gratuito graças a dois importantes convênios com as Secretarias de Estado de Educação e da Saúde, mas esses convênios não cobrem todos nossos gastos e investimentos da associação. É necessário arrecadar recursos para a compra de alimentos, de material pedagógico, para a manutenção dos equipamentos e dos imóveis, além dos programas de capacitação dos funcionários.
Contudo, a palavra autismo não é mais o mistério de antigamente, apesar de ainda não haver uma cura, há tratamento. Muitas pessoas se envolveram com a causa e fundaram associações semelhantes à AMA, dedicadas à educação de pessoas com autismo por todo o Brasil. Outros países se envolveram com nosso trabalho, como a Suécia que, durante mais de 10 anos, contribuiu financeira e tecnicamente com a AMA. Já foram realizados encontros regionais e nacionais, cursos e congressos. Continuamos trazendo profissionais estrangeiros altamente qualificados que dão apoio técnico a todo o trabalho realizado pela AMA.
Ao longo dessa dura jornada, a AMA conquistou reconhecimento como instituição de utilidade pública (Utilidades Públicas: Municipal – Decreto n°. 23.103 – 20/11/86, Estadual – Decreto n°. 26.189 – 06/11/86 e Federal – D.O.U.24/06/91). Recebeu também, da sociedade, prêmios pelo trabalho realizado, como o “Prêmio Bem Eficiente”, da Kanitz e Associados (1997 e 2005) e o “Prêmio Direitos Humanos”, da Unesco e do Poder Executivo Federal (1998), entregue à AMA pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A AMA tem muito orgulho de sua história e considera seu principal patrimônio toda a experiência e conhecimento acumulados e transmitidos por tantos alunos e profissionais que formamos diariamente há mais de 30 anos.